O coração do mundo
Doces rusgas de namorados,
destinos destilados em aguardentes,
cadáveres de generais apodrecendo,
turbas de pedintes,
claves de sol no ar,
quebras de mar na praia à noite,
levas de ouriços,
um não sei quê de morte.
Tudo está a um passo de acabar
e é tão eterno ao mesmo tempo
que eu poderia alcançar com minhas mãos
o inefável do instante último
da minha incompreensão.
Quadros virados ao contrário,
a marcha violenta dos soldados de barro,
o amor envolto em culpa,
o deslize das pernas na cama,
a lenda das mulas sem cabeça,
o croqui que não termina,
o som das paradas, em silêncio, nas conversas,
a corte dos palhaços em êxtase.
Eis a multidão de sonhos
em profusão geométrica
que avança a cada estocada no coito.
Doses de cachaça não farão diferença,
o coração do mundo está de volta.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
E que você espera encontrar?
De certo modo, eu esperava você...
Minha sombra, meu outro eu,
meu espelho, meu alter-ego.
Estou no deserto seu.
Não encontro nada senão
meu gêmeo, meu duplo.
Mas como sair dessa armadilha?
Encontro-me ao quádruplo.
Transfiguro-me na meditação
e acho a mim mesmo de novo,
simplesmente vejo o que de mim,
mais e mais, eu movo.
Se tiveres plantado ego, terás ego,
assim ensinou o sábio em contemplação.
Se tiveres plantado amor, terás amor.
Assim é a beleza da transformação.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Alma do amor
Alma do amor...
Vem para mim meu amor.
Estou contigo.
Amo-te com a alma.
Troco um coração por uma alma.
Se a alma for muito mais cara,
não me importa,
pago a diferença.
Com um coração posso ter todo o mundo,
mas com uma alma...
Ah, com uma alma,
eu tenho o poder de mil mundos.
Com uma alma
eu posso, inclusive,
arranjar um coração
e amar, amar fundo.
Amar tudo com alma.
Pena que eu esteja atrasado no jogo da vida
e não haja mais tempo
para trocas de tão alto valor.
Alma, a minha
está guardada,
mas o coração eu trocaria.
Trocaria por mais uma alma.
Afinal, onde está o seu tesouro
está o seu coração.
O meu tesouro é espiritual
e eu ganharia mais uma alma.
Como num videogame,
viveria mais uma vez.
Revivido, um homem novo.
E estaria de bem com a vida.
A alma do amor,
o amor da alma.
Estaria, em essência,
em consonância com o cosmos.
Alma do amor...
Vem para mim meu amor.
Estou contigo.
Amo-te com a alma.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Se as máquinas estão rodando
Atitude. Cabeça erguida.
Se as roldanas e as maquinarias estão funcionando.
Se o sistema te põe no lixo.
Tenha atitude.
Não se venda.
Eles não valem um centavo do seu dinheiro suado
de trabalhador.
Atitude. Cabeça erguida.
Se eles dizem: volte para o seu lugar.
Diga a eles
que o seu lugar
é onde se fizer a sua dignidade, a sua honra
de homem e mulher inteira,
de pessoa humana plena, realizada.
Atitude. Cabeça erguida.
Se a porta se fechou,
Se nunca esteve aberta,
passe pela parede, arrebente a parede.
É de assalto que se toma o céu, já foi dito.
Esteja alerta.
O estofo de que eles são feitos também é pó.
Atitude. Cabeça erguida.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
A raiva e a esperança
Nesse estado de coisas
a que chegou o nosso cotidiano,
só com raiva pode-se viver
porque da raiva vem a esperança.
Veja bem, da raiva contida, estagnada.
A raiva como um machucado com cascão
que já sarou, mas ainda inspira cuidados.
A raiva pelos problemas insolúveis,
aqueles que só mesmo Deus.
Mas se a raiva seca
como seca um rio antes de chegar ao mar,
não há mais indignação,
não há mais revolta,
nem tampouco rebeldia.
E o destino vem anunciar
a morte prematura daquele ser vivente.
Porque se sem raiva pode-se viver por um tempo,
sem esperança é que não se pode mesmo.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
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